quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

AMARGA, DOCE VIDA

Vendo a luxuria da sociedade atual, a busca pela riqueza, a ganância que chega a mexer com as estruturas desse país.Começo a pensar onde vivo, como vivo e as pessoas que me rodeiam, passo a pensar no valor do dinheiro e qual a sua real estima nas mãos de uma criança.
Morador da sobral, região considerada periférica pela maior parte do povo da capital, além das obrigações da faculdade, passei a observar e me preocupar com uma coisa que venho fazendo há muito tempo, e só agora vim me dar conta de que minha atividade faz parte do cotidiano de minha comunidade.
Principalmente dos pequenos sofredores que vejo passar todos os dias pela minha rua, e param em frente minha casa onde há uma quitanda de doces e gastam todas as suas moedas com as mais diversas balas e bombons.
Com a mais pura inocência os vejo passar correndo como verdadeiros maratonistas (só que da batalha da vida) com um sorriso estridente, como se estivessem prestes a ganhar uma medalha olímpica.
Juntamente com as moedas que balançam nos bolsos, as suadas e quase sem a verdadeira cor devido à sujeira que assola um bairro pobre, e até mesmo as que vêm em suas bocas, como ato de uma criança que deseja apenas sentir derreter em sua boca o sabor adocicado de uma bala.
Também trazem junto consigo um belo sorriso, as marcas da pobreza, do descaso e até mesmo da violência. Descalços, sujos, melados ou empoeirados, não importando as desgraças que trazem consigo, nunca deixam se perder pela sujeira da periferia e pelo caminho por onde passam o infante sorriso de quem adoça a amarga vida com os doces vendidos por mim.
Muitos nem sabem o real valor de uma moeda, embora muitas vezes não passem dos R$10 ou $ 25 centavos, pois é o que sobra após os pais comprarem o arroz e o feijão.
Por mais que desconheçam o valor que trazem em suas mãos sujas e maltratadas, nunca tiram seu sorriso no rosto ao levantarem seus frágeis braços e colocarem suas moedas sobre o balcão e dizerem:” me dar uma bala”.
E me surpreendo a pensar que por muitas vezes devido à conformação com a dura e triste realidade, tenha deixado de observar pequenos detalhes que por mais simples que sejam dão ao ato de vender um doce a uma criança, uma importância que vai muito além de 10 ou 25 centavos.
Passei a notar que são essas crianças, pobres, sujas e famintas de meu bairro que são as que mais verdadeiramente sabem o real valor do dinheiro.
São elas que por mais que tragam nas mãos o troco do arroz e do feijão que outrora esteve em suas mesas, nunca reclamam das desgraças muito menos se queixam de suas vidas sofridas.
Não usam suas moedas para financiar guerras não trazem em seu coração enquanto correm a venda de minha casa a ganância social, a luxuria ou muito menos a soberba de quem almeja sempre mais, mesmo que para isso tenha que usar de meios que tragam prejuízos a outros de seus semelhantes.
Não fazem do caminho por onde passam uma trilha repleta de cobiça e pretensão. Onde os mais pobres são esmagados pela sociedade capitalista.
 E sim, apenas trazem consigo, o que nenhuma moeda pode comprar: um sorriso brilhante e sincero. Um coração movido por sentimentos e de esperança por um futuro melhor, e nas sujas e pequenas mãos, uma moeda, que lhe dará o direito de adoçar, mesmo que por um momento, a vida que o mundo cruel por descaso e ambição fez questão de amargar.











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